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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Paul Verlaine

GALERIA DOS IMORTAIS DA LITERATURA

Paul Verlaine
CANÇÃO DO OUTONO
Trad. Alphonsus de Guimaraens

Os soluços graves
Dos violinos suaves
Do outono
Ferem a minh'alma
Num langor de calma
E sono.

Sufocado, em ânsia,
Ai! quando à distância
Soa a hora,
Meu peito magoado
Relembra o passado
E chora.

Daqui, dali, pelo
Vento em atropelo
Seguido,
Vou de porta em porta,
Como a folha morta
Batido...

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CONVIDADOS DA SEMANA:

Fernando Anitelli

O Teatro Mágico:
Sintaxe À Vontade

"Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
Bem vindo ao teatro mágico!
sintaxe a vontade..."

Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
a partir de sempre
toda cura pertence a nós
toda resposta e dúvida
todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
todo verbo é livre para ser direto ou indireto
nenhum predicado será prejudicado
nem tampouco a vírgula, nem a crase nem a frase e ponto final!
afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas
e estar entre vírgulas é aposto
e eu aposto o oposto que vou cativar a todos
sendo apenas um sujeito simples
um sujeito e sua oração
sua pressa e sua prece
que a regência da paz sirva a todos nós... cegos ou não
que enxerguemos o fato
de termos acessórios para nossa oração
separados ou adjuntos, nominais ou não
façamos parte do contexto da crônica
e de todas as capas de edição especial
sejamos também o anúncio da contra-capa
mas ser a capa e ser contra-capa
é a beleza da contradição
é negar a si mesmo
e negar a si mesmo
é muitas vezes, encontrar-se com Deus
com o teu Deus
Sem horas e sem dores
Que nesse encontro que acontece agora
cada um possa se encontrar no outro e o outro no um
até porque...

tem horas que a gente se pergunta...
por que é que não se junta
tudo numa coisa só?

**

Adília Lopes

METEOROLÓGICA

(para o José Bernardino)

Deus não me deu
um namorado
deu-me
o martírio branco
de não o ter

Vi namorados
possíveis
foram bois
foram porcos
e eu palácios
e pérolas

Não me queres
nunca me quiseste
(porquê, meu Deus?)

A vida
é livro
e o livro
não é livre

Choro
chove
mas isto é
Verlaine

Ou:
um dia
tão bonito
e eu
não fornico

**

Sandra de Almeida

Choro do Beija Flor

Esvaindo em lamento
ele sai desatinado.
Sangra e sai obstinado,
triste momento!

Olhando as matas,
chora calado.
Coração machucado,
vê tudo acabado.

Voar para onde?
Pousar em qual flor?
Em seu choro esconde,
medo...tudo ficou sem cor!

Pobre de você...beija flor!

Sandrah
www.paralerepensar.com.br - 20/09/2007

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ARTE EM FAMÍLIA
Constatação

Ângela Maria Zanirato


eram meninos
e eram tantos
e eram santos
e eram os sonhos
e era o destino
e era roto
roído
frágil
e era a vida
trazia os ventos
trazia os vãos
mostrava o chão
e nem tinha pão
e eram meninos
e eram vermelhos
e eram tantos
e eram vivos
olhos vividos
dias aflitos
e eram as mães
e eram tantas
e eram brancas, negras
azuis verdes e amarelas
e era a fome
e tinha nome
e tinha hora e tinha dia
e tinha a dor
e era o céu
e eram os meninos
todos ao léu
e era a faca e era cega
e eram velas
e ninguém a vê-las
a velar
pelos meninos
que eram tantos
que nem a noite
que nem a morte
conseguiu (re) velar
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